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Cancelamento no K-pop: o que acontece quando um Idol se envolve em polêmicas?

  • Foto do escritor: Marcella Belizario
    Marcella Belizario
  • 30 de abr.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 6 de mai.

Por trás do universo do K-pop, com videoclipes coloridos, coreografias alinhadas e figurinos impecáveis, existe a cultura de cancelamento, a qual pode custar a saúde mental dos artistas.


Na indústria do K-pop, ser “cancelado” pode significar o fim de uma carreira - Fonte: Banco de imagens Geralt
Na indústria do K-pop, ser “cancelado” pode significar o fim de uma carreira - Fonte: Banco de imagens Geralt

O estilo musical coreano começou a ganhar força em meados de 2017 com o famoso BTS, primeiro grupo a levar o prêmio no Billboard Music Awards como Top Social Artist, a partir dali muitas pessoas começaram a se interessar por todo aquele glamour e pela imagem da “vida perfeita”, que os idols, termo utilizado para se referir àqueles que atuam na indústria de música pop coreana, passavam por meio da fama conquistada. 


No entanto, fora das câmeras, a vida desses artistas é marcada por contratos abusivos, jornadas exaustivas, dietas rigorosas e pressões psicológicas que levam à tragédias. Isso começa desde o “pré debut”, onde os trainees passam anos em treinamentos intensos, em aulas de canto, dança, e atuação, muitas vezes, abdicando de sua infância e adolescência, para se tornarem “idols perfeitos”,  pegando pesado com o próprio corpo na busca incansável pela beleza. Muitos deles, até mesmo, optam por cirurgias plásticas para evitar serem alvos de ataques e críticas nas redes sociais. 


A cultura do cancelamento nada mais é que um sinônimo moderno, no qual uma pessoa ou um grupo é retirada da posição de influência e fama devido à reprodução de atitudes consideradas “questionáveis”, ou até mesmo normais demais, o que torna o ambiente do kpop e a vida dos idols vulnerável a qualquer exposição. Um dos fatores contribuintes para esse cenário é a imprensa de entretenimento, em especial o Dispatch, um dos portais mais famosos e influentes da Coreia do Sul. 


Conhecido por promover um “jornalismo investigativo” voltado à vida pessoal de famosos, o veículo frequentemente expõe, em suas redes sociais, polêmicas e relacionamentos secretos que mancham a imagem dos artistas. Tradicionalmente, no dia 1º de janeiro de cada ano, lança um “exposed”, revelando, em todas as vezes, um casal que tentava manter o relacionamento em segredo. Essas revelações sem consentimento desencadeiam ataques de ódio na internet, inclusive pelos próprios fãs. 


As famosas “Big 3”: JYP Entertainment, SM Entertainment,YG Entertainment, apesar da fama de seus grupos, já foram alvos de polêmicas, e a velocidade com que os rumores se espalharam globalmente contribuiu e ainda contribui para a amplificação do cancelamento. Em 2021, Hyunjin, membro do grupo Stray Kids, foi acusado de praticar violência física e verbal contra seus antigos colegas de classe. As alegações começaram em postagens anônimas nas redes, com prints de conversas que corroboraram com a denúncia, e que trouxeram uma visão negativa tanto para o integrante quanto para o grupo. 


Na época o JYP junto do cantor vieram a público por meio de uma carta de desculpas, na qual foi informado que as conversas reais das pessoas envolvidas nos fatos eram diferentes e que repudiam qualquer ato de violência contra o outro.  Apesar das provas irreais e do pedido de desculpas, o cantor foi alvo de ataques online, comprovando que o cancelamento se tornou uma resposta automática da opinião pública. Mesmo com a ausência de provas, a alta repercussão tem o poder rapidamente.  de destruir a imagem perfeita que foi construída.


Existem casos mais extremos que revelam como esse mecanismo moderno traz consequências trágicas. Idols como Sulli e Goo Hara, tiraram suas próprias vidas, pois foram alvos de cyberbullying, após polêmicas pessoais. Sulli era conhecida por ir contra toda a expectativa gerada sobre os artistas coreanos, falava abertamente sobre pautas feministas, como o direito de não usar sutiã e apoio ao aborto, o que a tornava alvo de ataques nas redes por parte de anti-feministas. Goo Hara recebeu comentários hostis por supostas cirurgias estéticas, enquanto vivia um relacionamento conturbado e abusivo, no qual sofria agressões, abusos e ameaças vindas de seu ex namorado, que possuía um vídeo íntimo dela. 


Jenna Gibson, doutoranda na Universidade de Chicago e colaboradora das publicações The Diplomat e Foreign Policy, discutiu, no programa Weekend Edition Saturday, da NPR, as mortes de Sulli e Goo Hara e como isso foi impactado  pelo ambiente do K-pop sob a cultura do cancelamento. Segundo ela, tais fatalidades mostram questões profundas relacionadas à saúde mental, ao cyberbullying e à pressão social enfrentada pelos artistas coreanos. 


“Acho muito importante lembrar que o K-pop, assim como qualquer indústria do entretenimento, reflete a cultura. Obviamente, as estrelas do K-pop sofrem uma pressão enorme por estarem disponíveis o tempo todo para a mídia. Então, sim, existe esse estresse adicional, com certeza. Mas existem certas questões sistemáticas e sociais que definitivamente estão em jogo aqui – a saúde mental e a estigmatização da busca por ajuda para problemas de saúde mental, bem como o escrutínio extra que as estrelas femininas e as mulheres em geral na Coreia do Sul enfrentam”, afirmou a doutoranda.


Portanto, quando observamos esses casos na carreira de tantas celebridades, fica visível que o mundo do K-pop precisa de mudanças radicais para combater a cultura do cancelamento e não gerar consequências mais graves aos artistas. Não apenas mudando a forma de contratos e treinamentos, mas sim discutindo um sistema onde falhas não sejam tratadas como sentenças. A cultura do cancelamento quando alimentada por rumores e julgamentos precipitados, não promove justiça, apenas silencia e adoece.

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©2025 POR MARIA JÚLIA MOREIRA, MARCELLA BELIZARIO E SOFIA MENDES.
ESSE BLOG É UM PROJETO INTERDISCIPLINAR DO 2° PERÍODO DO CURSO DE JORNALISMO, 

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