Influência da moda sul-coreana no Brasil
- Maria Júlia Moreira
- 27 de abr.
- 5 min de leitura
Atualizado: 5 de mai.

A cultura oriental já faz parte do nosso cotidiano há bastante tempo. No Brasil, a influência dos países asiáticos começou principalmente com a cultura japonesa, que foi a primeira a ganhar destaque. Mas nos últimos anos, a cultura sul-coreana vem ganhando cada vez mais espaço. Com a internet em seu ápice, tornou-se o apoio central para a dispersão da cultura, rompendo com as barreiras geográficas e linguísticas. Esta onda coreana vem se popularizando devido a exportação do mercado de entretenimento, como por exemplo, a produção de filmes e novelas – os k-dramas – e também o pop coreano, kpop.
Antes de falarmos sobre a moda, é necessário entendermos o movimento por trás desse fenômeno. Hallyu, nome dado à onda coreana, é basicamente uma iniciativa do governo sul-coreano de impulsionar a economia do país, por meio de empreendimentos culturais, na disseminação da cultura popular coreana. A hallyu é conhecida por ser responsável pela propagação cultural, ou seja, ela é uma estratégia de marketing do poder sul-coreano. Este movimento gerou e ainda gera grandes retornos ao país. Sendo assim, um modo pelo qual a Coreia busca continuar sendo um país autônomo e culturalmente distinto.
A Coreia tem ganhado destaque no mundo da moda nos últimos anos, e seu impacto como influenciadora nesse setor é cada vez mais relevante. Um dos principais fatores para isso é o uso estratégico da sua cultura pop — como a música, os dramas e os ídolos — que serve como uma vitrine poderosa para divulgar e valorizar a moda coreana. Consequentemente, a moda sul-coreana vem conquistando e influenciando grandes públicos. É claro que os brasileiros não estão fora dessa, é perceptível a mudança nos guarda-roupas da população.
No Brasil
No Brasil, a popularização ocorreu principalmente graças à internet e a sólida presença virtual. Com as mídias sociais, como o Instagram, Twitter, YouTube e recentemente o TikTok, encontra-se diversos conteúdos que abordam temas relacionados à Ásia, principalmente moda e beleza. O número de influenciadores brasileiros que apresenta este tipo de assunto, esta cada vez maior. Dessa forma, isso também contribui para a aproximação dos brasileiros à cultura sul-coreana.
Assim como acontece com qualquer forma de produto audiovisual, quanto maior a sua presença na vida cotidiana das pessoas, maior é sua capacidade de influenciar comportamentos, preferências e padrões de consumo. No caso da cultura pop coreana, essa influência vai além do entretenimento, moldando estilos de vida e até decisões ligadas à moda. A estética visual, que ocupa um papel central na produção cultural da Coreia do Sul, torna-se um referencial importante para os consumidores.
Atualmente, o Brasil é um dos grandes consumidores do Hallyu, e recentemente temos nos adaptado à moda sul-coreana. Com o apoio da internet, tornou-se muito mais fácil acessar lojas e plataformas online, como a Shein e o AliExpress, que permitem aos brasileiros adquirir roupas inspiradas na moda coreana de forma prática e com preços acessíveis. Esse aumento no consumo de moda internacional, especialmente de estilos vindos da Coreia do Sul, impulsionou a popularidade desse segmento no Brasil. No entanto, esse movimento também gerou certa apreensão no setor de vestuário nacional, que passou a enfrentar uma concorrência mais intensa, especialmente em termos de preço e apelo estético junto ao público jovem.
Diante desse cenário, as lojas nacionais se viram obrigadas a se reinventar para acompanhar as novas tendências de consumo. Muitas passaram a desenvolver e lançar coleções inspiradas diretamente na cultura sul-coreana, buscando atender à crescente demanda por esse estilo. As fast fashion — empresas caracterizadas pela produção em larga escala, preços acessíveis e ciclos rápidos de renovação de produtos — como Renner, C&A e Riachuelo, foram algumas das que mais rapidamente se adaptaram. Elas incorporaram elementos da moda coreana em suas coleções, alinhando-se ao gosto do público nas tendências globais.
As características da moda sul-coreana
Ao contrário do que ainda se observa em muitas partes do Brasil, a moda na Coreia do Sul é marcada por uma maior liberdade de expressão e fluidez de gênero. Não há uma rigidez quanto a modelagens, cores ou tipos de peças associadas especificamente ao masculino ou feminino. Essa abordagem mais aberta também é comum em outros países do leste asiático, como o Japão, onde a influência cultural de animes e mangás contribui para uma estética mais diversa e menos engessada. Nesses contextos, é comum ver homens e mulheres vestindo roupas coloridas, justas ou com cortes considerados “não convencionais” por padrões ocidentais, o que reforça uma moda mais inclusiva e expressiva.
Ainda nessa perspectiva, a estética dos mangás e animes foi o primeiro contato do público com a moda asiática, marcada por personagens expressivos, cabelos coloridos e roupas marcantes que refletem a sua personalidade dentro do enredo da história. Com o tempo, essa atração visual evoluiu com a crescente influência dos idols do K-pop e dos personagens de doramas coreanos. Figurinos que chamaram a atenção e conquistaram o público ocidental. Enquanto os doramas apresentavam figurinos capazes de transmitir elegância, delicadeza, além de uma sensualidade sutil. Já os idols – artistas e cantores do pop – expõem um lado mais criativo e ousado das peças de roupa, explorando modelagens diferenciadas e combinações inusitadas, que muitas vezes brincam com os códigos tradicionais de gênero. Assim reforçando o poder da moda como linguagem visual.
No Brasil alguns estilos se destacaram como, o comfy style, com peças largas e confortáveis, já é uma tendência forte na Coreia do Sul e em outros países do leste asiático. Elementos como jaquetas oversized, saias estilo college e sapatos Oxford fazem parte do cotidiano há anos. No nosso país, essas influências estão crescendo, impulsionando o interesse e a procura por roupas no estilo streetwear asiático.
Podemos usar como exemplo dessa inserção da moda asiática no Brasil, a estilista sul-coreana Miss Soohe. Suas criações se destacam por modelagens estruturadas, cortes marcando a cintura, uso intenso de cores, brilhos e texturas, além de referências marcantes às décadas de 1920 e 1960, com um toque glamouroso inspirado na Hollywood clássica. Consequentemente conquistou um espaço relevante no mundo fashion, além de conquistar as celebridades brasileiras. Miss Soohe vestiu a cantora de funk Anitta, na premiação VMA (Video music Awards) de 2021, as artistas se destacam no tapete vermelho. Também vestiu a atriz Bruna Marquezine para a Semana de Moda de Paris.
Conclusão
Com o decorrer do texto é perceptível, que a influência cultural do leste asiatico sobre o Brasil, é um movimento considerado até que antigo. Nos anos 1990, os animes começaram a ser exibidos em canais de TV aberta no Brasil, abrindo caminho para o interesse na cultura asiática. Já por volta de 2010, os doramas e o K-pop ganharam força e se tornaram populares entre os brasileiros. Nas redes sociais, como TikTok e Instagram, e até hoje esse tipo de conteúdo segue sendo amplamente consumido por aqui.
O hallyu, foi (e ainda é) um fenômeno que deu muito certo para a Coreia do Sul, graças à modernização da música coreana juntamente com a exportação da cultura, o país é sustentado por essa diplomacia cultural. Atualmente a onda coreana ganha ainda mais força, e acredito que alcançará ainda mais, pois mesmo que o número de consumidores tenha crescido, ainda há uma parcela consideravelmente grande da população para se conquistar. Portanto, se você acredita que essa influência asiática é apenas uma fase passageira ou que está chegando ao fim, é importante saber que, na verdade, ela está apenas começando. Assim como a cultura norte-americana por muito tempo foi vista como referência máxima — moldando nossos sonhos, comportamentos e ideais de vida — a cultura sul-coreana tem mostrado um potencial cada vez maior para ocupar esse lugar de influência global, especialmente entre as novas gerações.
Referências:
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