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K-pop além da música: a dança como forma de expressão e pertencimento 

  • Foto do escritor: SHINE
    SHINE
  • 4 de mai.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 6 de mai.

O K-pop vem transformando o cenário cultural do Brasil, e os fãs encontram espaço de identidade e expressão artística através da dança.


O grupo de dança Red Hot ensaiando a coreografia de Black Swan do BTS -  foto : Sofia Mendes e Maria Júlia Moreira
O grupo de dança Red Hot ensaiando a coreografia de Black Swan do BTS - foto : Sofia Mendes e Maria Júlia Moreira

Não é novidade que o K-pop, com seus conceitos variados e estéticas únicas, vem dominando o mundo, grupos como BTS, Stray Kids e TWICE,  lotam estádios e esgotam ingressos em minutos, e no Brasil não é diferente. Este movimento denominado Hallyu – onda coreana – ganhou muita força no país, principalmente na exportação da cultura e nos conteúdos de entretenimento, como os filmes, novelas e a música.


O K-pop surgiu misturando sonoridades e elementos globais com a cultura coreana, criando assim um estilo diferente que tem conquistado o mundo. A internacionalista Maria Angélica Borges, de 23 anos, formada em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Uberlândia, conta como essa disseminação se compara com a expansão cultural estadunidense – “Isso é algo semelhante ao que aconteceu com os Estados Unidos na época do American Dream, né? Vamos falar, todo mundo tinha aquele sonho de vida americano e hoje a Coreia do Sul é vista da mesma forma.” – Ela ainda conta sobre a fala da ex-primeira-dama da Coreia do Sul, a esposa do antigo presidente, que diz que antigamente todo mundo queria aprender inglês para poder mudar para os Estados Unidos, mas agora as pessoas procuram aprender coreano porque querem morar na Coreia do Sul. Essa mudança de perspectiva reflete como o soft power – capacidade de influenciar os outros por meios culturais ou ideológicos – coreano tem moldado e transformado a Coreia do Sul em novo desejo global. 


Essa expansão não só é um reflexo da popularidade mundial do K-pop, mas também como ele inspira expressões artísticas ao redor do mundo. O estilo musical é visto na Coreia como um símbolo importante e estratégico, um exemplo disso, é o grupo BTS que recebeu passaportes diplomáticos  para participar da assembleia geral da ONU entregue  pelo antigo presidente Moon Jae-In. Sendo assim, o pop coreano se torna relevante no cenário econômico e cultural.


Algo que se destaca nesse mundo são as coreografias marcantes, no K-pop é inviável separar música e dança, o conceito do pop coreano é a arte de cantar e dançar sem perder a qualidade de performance de ambos. Como um estilo de música que mistura vários estilos musicais como o pop, hip-hop, jazz e rock, a dança também é o resultado da mistura de vários estilos como o street dance, dança contemporânea tendo até mesmo aspectos do balé clássico. Assim, surgiram essas coreografias, que trabalham as diversas formas que o corpo pode se expressar.


Com o crescimento e expansão do K-pop, surgem no Brasil grupos de dança inspirados nas coreografias do pop coreano, graças ao encanto dos brasileiros pelo  mercado de entretenimento sul-coreano. Esses grupos nascem juntamente com os fandoms, diante de uma identificação e admiração pela arte e cultura, a dança torna-se o intermediário. Em diversas regiões do país, surgiram estúdios especializados, no estilo de dança do K-pop, grupos independentes e até mesmo competições em eventos que impulsionam o movimento. Dessa forma os fãs conseguem demonstrar sua admiração e carinho pela arte e pelo artista, além de despertar novos hobbies e desenvolver talentos na na dança .


Em Uberlândia, o grupo Red Hot, surgiu em novembro de 2019, e atualmente conta com 12 integrantes. E em entrevista com a nossa equipe o grupo conta sua trajetória, Mariane Duarte, de 24 anos, estudante de dança na UFU e líder do Red Hot, relata que a ideia de criar um grupo de dança surgiu para o Festival de Dança do Triângulo, inicialmente com foco em danças urbanas. Entretanto a ideia não deu certo, e juntamente com sua irmã Ana Júlia, e com suas amigas Lanna e Larissa, surge o Red Hot, ainda apenas com a ideia de apresentar em um encontro de fãs que ocorreu em Uberlândia. Mariane diz – “A ideia era basicamente juntar pessoas que gostam de k-pop, que gostam de dançar, que gostam desse meio, né, e ficar junto, dançar junto, se divertir, tirar, tipo, final de semana, geralmente a gente só ensaia final de semana, mas com essa ideia de se expressar mesmo, de esquecer um pouco essa vida agitada que a gente tem fora da dança, sabe? E aí acabou que a gente foi levando isso, a gente viu que não era só uma apresentação, que a gente gostava de estar junto.”


O grupo enfrenta diversas dificuldades, uma delas é o estranhamento que ainda ocorre com o K-pop, diversos membros pontuam a dificuldade de se inserir no cenário da dança em Uberlândia como grupo sério. Em algumas situações o estilo não é nem mesmo considerado como um gênero de dança, mas sim uma espécie de cover. Essa rejeição do entretenimento sul-coreana dificulta a participação dos grupos nos espaços artísticos e competições. Uma vez que o cenário do K-pop em Uberlândia é limitado, grupos como o Red Hot acabam sendo encaixados em outras categorias para competir e se apresentar, então as competições acabam não sendo justas.


Além disso, existe um certo preconceito com o K-pop como um todo, apesar da expansão e dominação do entretenimento sul-coreano no ocidente, esse choque cultural entre Ásia e ocidente gera diversos discursos e suposições, tanto sobre a cultura em si quanto sobre quem a consome. A integrante Isadora Costa, estudante do terceiro ano do ensino médio, fala mais sobre essas dificuldades enquanto fã de K-pop, em geral e principalmente no ambiente escolar, ela conta que muitas vezes evita falar que faz parte de um grupo que dança K-pop, para evitar a exclusão e os comentários chatos que recebe.


Um dos membros ressalta também, sobre a inclusão e o pertencimento através do grupo e da dança, Dimitri Alves, em seu relato enquanto um homem transgênero, conta como o grupo é acolhedor, “A Mari sempre teve esse cuidado muito grande com a gente. Principalmente comigo e com o Luka. Que passamos por muitas situações chatas, as pessoas em geral desrespeitam muito a gente. Então até mesmo a questão de documentação a Mari já resolve pra gente. Já coloca o nosso nome social. Sempre tem um cuidado muito grande com a gente. Isso é uma coisa que vale muito, porque é um acolhimento e é um apoio que a gente não recebe de todo mundo.” Dimitri conta as dificuldades de ser um homem trans, que não se limitam ao mundo do K-pop ou da dança, e como com o Red Hot se relaciona livremente com o coletivo, tendo liberdade para se expressar sem medo. Vemos a importância que o grupo tem nas vidas dos membros como um todo, e como todos são acolhidos carinhosamente, e mais que isso, pertencem a um espaço onde existem nas suas formas mais autênticas. 


Ao falar sobre o grupo em sua vida, os membros se emocionam, a líder do grupo, e contam que ali eles são uma família, não apenas pela convivência, mas também pelo carinho e companheirismo construído ali, e então, compreende-se o afeto e os sentimentos presentes ali, na interação do grupo, que é considerado pelos membros uma família. Vemos cada vez mais com a expansão do K-pop diversas comunidades de fãs e grupos como o Red Hot, e a mensagem que essa comunidade carrega, apesar de seus problemas, é  um ambiente de pertencimento e acolhedor, pois a cada ensaio e apresentação, cria-se uma conexão e espaço sem julgamentos.


O fenômeno do K-pop, vai além da música, através da dança, por exemplo, ele conecta pessoas de diferentes realidades e culturas. Países como o Brasil, onde ainda existe o desafio da representatividade, movimentos como a dança e grupos como o Red Hot mostram sua resistência e ganham forças, pois não somente oferecem dança, mas uma comunidade afetiva. Construindo essa identidade, o pop coreano cada vez mais criam raízes brasileiras, e moldada pelos fãs e sua paixão pela arte conquista espaços importantes e quebra barreiras culturais.


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